Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Palavras ao vento

Palavras ao vento

Entrevista Teatro Metaphora

Primeiro que tudo quero parabenizar-vos pelo vosso projeto e agradecer por me terem dado a honra de me concederem esta entrevista para o meu blogue, e dar a conhecer melhor o vosso projeto aos nossos leitores.

transferir.jpg

 

André Ferreira- Quando é que foi criado o Teatro Metaphora?

Teatro Metaphora- Formalmente, a associação foi registada no dia 3 de setembro de 2009.

 

André Ferreira- Quais são os principais projetos que o Teatro Metaphora tem presente?

Teatro Metaphora- A nossa ação pode ser agrupada em três áreas distintas:

a) produção de espetáculos de teatro, promoção e participação em atividades culturais em torno de várias disciplinas artísticas, contribuindo assim para o desenvolvimento e disseminação do património cultural;

b) organização de projetos, seminários e formações nacionais e internacionais, no âmbito de programas locais, nacionais e europeus (Erasmus + e Corpo Europeu de Solidariedade);

c) como resultado de uma Iniciativa Jovem, desenvolvemos uma ampla gama de atividades e workshops relacionados ao património natural, reciclagem, mudança climática, tópicos de melhores práticas ambientais.

 

André Ferreira- Qual a vossa principal missão, e em que se baseiam os vossos valores?

Teatro Metaphora- É desenvolver competências sociais e pessoais de crianças, jovens e adultos com base nos princípios da educação não formal. O nosso propósito corresponde à realização de um projeto sociocultural, gerador de ideias, de energias, de sentimentos, através de uma programação diversificada em géneros, formas e expressões artísticas contemporâneas, pensada a partir dos desejos e desafios culturais dos diferentes segmentos de públicos.

 

André Ferreira- Podem contar um pouco mais sobre a vossa história?

Teatro Metaphora- Brevemente completaremos 10 anos. No início, um grupo de amigos decidiu juntar-se e começar produzir peças de teatro. Os primeiros anos foram apenas dedicados ao teatro, e apresentámos algumas peças. Foi muito difícil, uma vez que não dispúnhamos de espaço para ensaiar, guardar materiais, reunir, etc. Andávamos sempre com a tralha de um lado para outro. Entretanto, a partir de 2013, enveredamos por outras atividades, sobretudo relacionadas com a temática da sustentabilidade. Também começámos a organizar atividades de mobilidade juvenil, como intercâmbios, voluntariado, seminários, entre outras modalidades nas quais os participantes viajam para outro país e vivenciam experiências de educação não-formal incríveis.

 

André Ferreira- Vocês têm cerca de 232 voluntários, todos eles são artistas de teatro?

Tetaro Metaphora- Parte dos nossos associados estão ligados ao teatro. Quando começámos, apenas nos dedicávamos ao teatro. Depois fomos abrindo espaço para outras áreas. Esse número corresponde a pessoas que colaboram, ou já colaboraram de forma regular.

 

André Ferreira- Quem quiser visitar-vos podem encontrar-vos onde?

Teatro Metaphora- Estamos sediados na Rua São João de Deus, n.º5, em Câmara de Lobos. Futuramente, iremos ser transferidos para o Ilhéu de Câmara de Lobos.

 

André Ferreira- Estão inseridos no projeto Erasmus, em que consiste este projeto?

Teatro Metaphora- O Erasmus+ é o programa da UE para a educação, formação, juventude e desporto. O programa Erasmus+, que se prolonga até 2020, não oferece apenas oportunidades aos estudantes. Com efeito, resultante da fusão de sete programas anteriores, este programa alarga as oportunidades a uma grande variedade de pessoas e organizações: oportunidades de estudo, formação, aquisição de experiência e voluntariado no estrangeiro.

 

André Ferreira- Têm neste momento 497 árvores plantadas, em que termos se insere este projeto das árvores plantadas?

Teatro Metaphora-Plantar árvores é algo que faz muita falta. No nosso contexto insular, muitas montanhas estão desertificadas e expostas à erosão. Acreditamos que a reflorestação é uma prioridade.

 

André Ferreira- Qual a maior razão de terem criado o projeto Teatro Metaphora?

Teatro Metaphora- A maior razão teve a ver com a vontade de um grupo de amigos em se juntar em torno de causas e projetos. Quisemos dar por bem empregue o nosso tempo livre, ultrapassar a rotina.

 

André Ferreira- Vocês também estão presentes com o projeto oficinas de reciclagem. Podiam falar-nos mais sobre este projeto?

Teatro Metaphora- Nós transformamos objetos usados que iriam para o lixo, noutros objetos com utilidade e atrativos. Tem sido um projeto muito interessante. Uma vez reunimos mais de 100 tambores de máquina de lavar roupa, e fizemos candeeiros para a rua. Ficou magnífico.

 

Andre Ferreira- Quem se quiser dar como voluntário como o pode fazer?

Teatro Metaphora- Basta manifestar o seu interesse, e estar atento às oportunidades que vamos anunciando.

 

André Ferreira- Existe algum requisito obrigatório para trabalhar convosco?

Teatro Metaphora- Nada de especial. Apenas que respeitem os colegas e que sejam cooperantes. Havendo respeito, o resto é fácil.

 

André Ferreira- Quais são as peças de teatro que vão estrear brevemente?

Teatro Metaphora- Brevemente iremos preparar uma adaptação das crónicas “A Vida como ela é”, de Nelson Rodrigues.

 

André Ferreira- Gostaria de deixar algum convite aos nossos leitores?

Teatro Metaphora- Apenas gostaria de reforçar que é sempre muito gratificante quando estamos envolvidos em atividades. Conhecemos pessoas, fazemos coisas benéficas para a comunidade, e isso tem retorno a nível individual também. Portanto, saiam da vossa zona de conforto e sejam participativos.

Entrevista com a Sociedade Protetora dos animais

"A Sociedade Protectora dos Animais (SPA) foi fundada em Lisboa a 28 de Novembro de 1875 pelo conselheiro José Silvestre Ribeiro.

A SPA distinguiu-se na luta pelos direitos dos animais, sendo a associação zoófila mais antiga e com mais história em Portugal. Graças à sua longevidade apresenta-se como uma referência no que diz respeito a uniões zoófilas

.A Sociedade Protectora dos Animais é uma instituição privada de utilidade pública, sem fins lucrativos, que subsiste da quotização e dos donativos. Nunca recebeu qualquer apoio público, embora tenha assumido responsabilidades da competência do Estado.

Para nós, os nossos sócios são uma mais valia e por isso contamos com vários postos veterinários espalhados por Lisboa prontos para os servir e, claro, aos seus companheiros de quatro patas.

Contamos ainda com um pequeno canil, talvez pequeno demais para albergar todos os nossos sonhos."

Antes de iniciar esta entrevista, quero agradecer-vos por terem aceite este convite, que por certo vai deixar muita gente feliz, principalmente aqueles que são apaixonados pelos animais, tal como eu.

 

André Ferreira-Começava por perguntar como surgiu a ideia de criar a Sociedade Protetora dos animais?

Sociedade Protetora dos animais-Tendo sido criada em 1875, aquando de um forte movimento politico que instaurara a monarquia constitucional anos antes e que viria a depor a monarquia portuguesa já no séc. XX, desperta neste período uma forte ideia de mudança, de novas ideias. Isto parece nada ter a ver com a criação da SPA, no entanto, é preciso imaginar este Portugal, com uma classe de trabalhadores liberais a afirmar-se e com vontade de agir socialmente. Bastará, aliás, consultar um dos primeiros volumes do Zoophilo (publicação da SPA que relata histórias de defensores dos animais, o que se fazia de novo em Portugal, inovações veterinárias, etc.) para perceber este espirito de renovação e de defesa de novas ideias. É, pois, no seguimento destas novas ideias que surge a SPA. Um pouco à semelhança do resto da Europa, os direitos dos animais começam a surgir como tema de debate em Portugal e assim, a criação desta que seria a primeira associação zoofila portuguesa.

Se nos perguntar o que motiva a sua existência nos dias de hoje, diríamos que é esta grande vontade de lutar pelos direitos dos nossos animais. É o querer ajudar o mais possível e a esperança de conseguirmos mudar a forma de pensar os animais. Podemos dizer que o espirito de mudança se mantem na SPA.

 

AF- Quais são as vossas maiores valências no que respeita à proteção dos animais?

SPA-Atualmente, podemos contar com uma forte equipa veterinária que nos permite fazer chegar ajuda a vários animais abandonados ou a pessoas com menos posses e que querem ver os seus animais bem tratados.

Procuramos ainda ajudar juridicamente os nossos sócios, bem como quem nos procura com dúvidas desta natureza. Nos dias que correm, faz bastante sentido prestar este tipo de serviço. Com a entrada em vigor das novas leis dos maus tratos animais surgem muitas questões e nós ajudamos no seu esclarecimento.

Temos ainda a ajuda das redes sociais para divulgar alguns casos relativos a novas leis, petições ou ideias que nos pareçam merecedoras, bem como para ajudar na adoção e resgate de animais.

 

AF- Que tipo de ações são desenvolvidas na vossa associação?

SPA-Temos várias campanhas que vão decorrendo ao longo do ano. Por exemplo, está agora a decorrer a nossa “Campanha de rua”, onde recolhemos e esterilizamos vários gatos de rua, na tentativa de contenção das colónias de gatos.

 

Temos ainda campanhas de recolha de alimentos e mantas que não só servem para os nossos animais, como também distribuímos por outras associações e projetos de defesa animal que apoiamos.

 

Temos ainda um grupo de jovens voluntários que trabalha connosco semanalmente. Acreditamos que devemos tentar chegar aos jovens e educa-los nos direitos e proteção animal para termos uma nova geração mais conscienciosa e com vontade de ajudar as quatro patas.

 

Internamente, desenvolvemos ainda campanhas para sócios, quer seja de ração, vacinas, banhos e tosquias ou, mais importante, de esterilização.

 

AF- Na vossa opinião uma forma de proteção da espécie animal, por exemplo; vocês acham que se as pessoas passassem a uma dieta alimentar vegetariana, e também o fato de não utilizarem, por exemplo casacos de peles de animais, reduzira a procura pelos recursos a animais e assim a espécies encontravam-se mais protegidas!?

SPA- Acreditamos que os animais não devem ser perseguidos e caçados para proveito e divertimento humano. Neste sentido a busca pelo marfim, peles e outras coisas consideradas “luxuosas”, por exemplo, a barbatana de tubarão ou óleos de baleia usados em cosméticos, deverá acabar. Mas não basta, as leis devem ser mais rígidas e especificas para desmotivar a caça e pesca furtivas e assim ajudar a proteger os animais. Também o comercio de animais exóticos não deve ser suportado, bem como a criação ilegal de cães e gatos, muitas vezes feita de forma desumana e sem controlo veterinário.

 

AF- Ainda no que respeita à proteção dos animais, por exemplo os animais que se encontram presos em jaulas em zoológicos, como uma atração para que as pessoas possam ver-nos, não estão a privar estes da sua própria liberdade, enquanto estes deveriam viver felizes e livres no seu habitat natural?

SPA-Claro que sim. O lugar destes animais não é numa jaula, mas sim na natureza.

 

AF-Qualquer cidadão comum ao ver um animal ser maltratado na rua, que medidas pode e deve tomar?

SPA- Perante uma situação de maus tratos ou negligência, deve-se apresentar queixa às autoridades, através do SEPNA, pelo 808 200 520. Pode-se também recorrer à 21POLICIA pelo telefone, 217654242, ou por email: defesanimal@psp.pt

 

 

Em todo o caso é importante que seja uma situação de maus tratos confirmada, pois já recebemos muitas queixas que se verificaram ser um mal-entendido ou até uma forma de partida ou vingança entre vizinhos. Mais uma vez alertamos para o facto das nossas autoridades receberem milhares de pedidos de ajuda por dia, pelo que é importante que o façamos com responsabilidade, pois facilita a atuação dos nossos agentes e permite que cheguem aos casos mais graves

 

AF-Na Introdução que vocês fazem sobre a vossa associação, falam sobretudo nos animais de quatro patas, penso que se referindo a cães e gatos, gostaria de saber se também atuam sobre outros animais que necessitem da vossa ajuda?

SPA-Temos não só cães e gatos, como pássaros, coelhos, chinchilas, tartarugas entre a nossa lista de amigos! Recebemos pedidos de ajuda para todo o tipo de animais, burros e cavalos, aves de várias espécies, vida marinha, etc. Aos que conseguimos e sabemos dar resposta, ajudamos. Aos animais que necessitam de ajuda mais especializada, reencaminhamos para centros veterinários ou de aconselhamento específicos a cada espécie.

 

AF-Quem quiser ajudar a vossa associação como poderão fazê-lo?

SPA-Basta que nos contactem via Facebook ou através do nosso site, www.sp-animais.pt

Estamos sempre disponíveis para acolher novos voluntários, bem como algumas doações que, tal como já referimos, partilhamos com outros projetos desta área

 

AF-Neste momento até onde a vossa associação já chegou e até onde pretende chegar?

SPA- A SPA já passou a marca de um século de existência, pelo que uma grande conquista terá de ser a da longevidade e de persistência. Não só persistimos na conquista de novos domínios, com a passagem por várias formas de comunicação, diferentes padrões sociais e ideológicos desde 1875 até aos nossos dias, como persistindo nos nossos ideias e vontade de ajudar.

Queremos chegar não onde, mas a todos. Não nos vemos a parar tão cedo e queremos fazer o melhor que conseguimos e sabemos.

 

AF- Quem pensar adotar um animal, o que deverá ter bem presente, para que mais tarde não caia no erro de abandonar o animal, pois para muita gente como eu seria abandonar um filho?

SPA- Nós temos uma ficha de pré-adoção que visa exatamente alertar o futuro adotante para algumas questões de revelo.

Ao adotar um animal deverá ter presente que se trata de um companheiro que necessita de alimentação e cuidados veterinários, para além de tempo e dedicação. Assim, deve ponderar se tem capacidade de lhe garantir estas coisas por vários anos de vida que o animal possa ter (e esperamos sempre que muitos!).

 

Deve ainda questionar-se, por exemplo, o que aconteceria se algum membro da família fosse alérgico ao animal, pois muitas vezes temos animais “devolvidos” por alergias ou outras doenças associadas. Claro que a saúde deve ser preservada, no entanto, no momento de adotar há que ter esta questão bem definida.

 

Não adote um animal porque é bebé e é tão querido. O animal cresce e torna-se maior, mais peludo, mais trabalhoso, gosta de roer/arranhar tapetes, etc. Esteja preparado para isso e aceite que não está a adotar um animal bebé; está a adotar um companheiro. E lembre-se, um animal não é um presente!

 

O seu animal não vai ser perfeito. Mas você também não o é, por isso aceite-o mesmo quando ele não corresponde às suas expectativas. Porque para ele, você vai sempre corresponder às expectativas dele e vai saber perdoar todos os seus erros e defeitos. Posto isto, porquê abandonar?

 

AF- Obrigada pela vossa disponibilidade, e espero que continuem a ter muito sucesso na ajuda dos nossos amiguinhos de quatro patas. Um Bem-haja a Vocês!

 

Mais informações em:

(http://spanimais.wix.com/spa-lisboa#!quem-somos/c1bcy)

 

Entrevista com Luís Filipe Borges

Antes de começar esta entrevista, agradeço ao Luís Filipe Borges a disponibilidade, que permitiu com que esta entrevista fosse possível, e também ao meu amigo Hugo Fernandes que colaborou comigo na realização da mesma.

 

 

André Ferreira - Foi-lhe difícil tomar a decisão de trocar Angra do Heroísmo por Lisboa?

 

Luís Filipe Borges - Sim e não. Sim, porque na altura não tinha paixão nenhuma pela capital e imaginava-me a continuar pelo arquipélago. Não, porque os meus amigos todos vinham…portanto não podia lá ficar sozinho.

 

André Ferreira- O que fez para ajudar a conseguir nos primeiros tempos a ultrapassar as saudades da família e dos amigos que ficaram na terra Natal?

 

Luís Filipe Borges- Os amigos estavam por Lisboa, um deles – por mero acaso – até era meu vizinho! Essa coincidência ajudou muito. Mas as saudades da família eram imensas. Basicamente, gastei muito em despesas telefónicas… e volta e meia ia até às margens do Tejo e deixava-me lá ficar matando as saudades possíveis do mar açoriano. O rio era como a minha metadona.

 

André Ferreira- A adaptação a Lisboa foi de alguma forma complicada, ou foi algo que ocorreu normalmente?

 

Luís Filipe Borges- Foi complicado nos primeiros meses por causa das saudades, lá está, e do facto de me sentir basicamente emigrante – um estranho em terra estranha. Mas, mais depressa até do que esperava, aconteceu-me ver o lado positivo: a liberdade, as novas amizades, a descoberta duma cidade incrível, a responsabilidade de me orientar sem ter o apoio da família (o que faz de nós uns homenzinhos).

 

André Ferreira- A imagem de marca pela qual ficou conhecido foi a boina que começou a usar na Faculdade, e ficou consigo até ao 5 para a meia – noite, dizendo que era “para marcar a diferença num cenário cinzento conservador” na época em que a começou a usar. De alguns anos para cá o Luís Filipe Borges já não usa a boina, isso aconteceu porque já não somos tão cinzentos e conservadores, ou para o público começar a tratar pelo seu nome em vez de Boinas?

 

Luís Filipe Borges- Belíssima pergunta. Aconteceu por duas razões: primeiro, porque acredito que há um tempo para tudo na vida (e um Peter Pan na meia-idade deve ser das coisas mais deprimentes imagináveis); segundo, porque embora me orgulhe muito do meu percurso e acarinhe o nick-name “Boinas” (ainda hoje o uso no Twitter, por exemplo), cheguei a uma altura em que quis demonstrar de forma subtil estar preparado para algo mais – e não me limitar à imagem de marca, por muito comercial que fosse. Então ganhei novos hábitos, perdi peso, mudei o visual. Este é um país que adora rótulos. Pois eu detesto, e recuso-me a ser engavetado numa só categoria.

 

André Ferreira- O Luís Filipe Borges fez o curso de direito, mas não pratica, os seus pais aceitaram bem quando lhes disse que não queria praticar direito para o mundo do entretimento/espetáculo ou pensaram que tinha “endoidecido”?

 

Luís Filipe Borges- Foi a segunda hipótese J Mas, ao fim duns anitos, quando perceberam que o filho fazia o que gosta e garantia o seu sustento, despreocuparam-se. As palmadinhas nas costas dos vizinhos e conhecidos também ajudaram ;)

 

André Ferreira- É apresentador/humorista/guionista/escritor/autor e também já fez alguns trabalhos como ator, qual deles surge mais naturalmente em si e de qual gosta mais?

 

Luís Filipe Borges- Sou versátil, e gosto disso. Há um reverso da medalha, contudo. Numa terra de rótulos, gavetas e capelinhas, muita gente fica agoniada quando se depara com alguém capaz de jogar em diversos tabuleiros. O CPU deles não consegue processar. Mas a questão decisiva é esta: a vida é muito curta. Enquanto puder fazer o que quero e gosto, não importa em quantas áreas for, continuarei. Isso, a permanente curiosidade, a aprendizagem constante, o entusiasmo pelo novo, o medo perante o desconhecido, é que é sinónimo duma vida preenchida. Mas enfim, se fosse obrigado a escolher uma só actividade para todo o sempre e mais além, então seria a escrita.

 

André Ferreira- Como surgiu a oportunidade de entrar para a televisão?

 

Luís Filipe Borges- Escrevia uma crónica diária de humor no extinto “A Capital”, sempre o último texto a entrar, mesmo aos sábados e domingos, porque era um apanhado cómico daquele dia. Tinha 2000 caracteres para ir da Economia, à Sociedade, do Desporto à Cultura. O mais tremendo desafio individual da minha vida, provavelmente. Então um belo dia recebi um telefonema de Bruno Santos, na altura um jovem brasileiro sub-director da RTP2. Gostava dos textos, tinha uma semente dum projecto, queria conhecer-me. Incrível como alguém teve um feeling destes para com um absoluto desconhecido. Demo-nos bem, ajudei a maturar o conceito, gravei um piloto, a administração comprou, nasceu “A Revolta dos Pastéis de Nata” (onde comecei eu, o Pedro Fernandes, o Jel, o Hugo Veiga – hoje um dos maiores criativos publicitários do mundo, etc). Estarei sempre grato a Bruno Santos.

 

André Ferreira- Começou como apresentador no programa “A revolta dos pastéis de Nata”, que se tornou um sucesso e um programa de culto, transmitido pela RTP2, tem saudades do programa? Na televisão que temos hoje haveria espaço para uma nova “revolta” dos pastéis de nata?

 

Luís Filipe Borges- Penso que, durante uns bons anos – o que em televisão deve ser considerado uma vida – o “5 para a Meia-Noite” foi um fiel e digníssimo herdeiro da “Revolta”. Aliás, até ultrapassou a fasquia! Porque era interactivo, pioneiro na multimédia, e oferecia 5 registos diferentes todas as semanas. Hoje em dia acredito que só no cabo - e através de um novo raro exemplo de ousadia e confiança por parte de quem dirige os canais - é que voltaria a ser possível um programa assim. Por outro lado, actualmente há toda uma nova panóplia de ofertas audiovisuais, graças ao triunfo da internet. Há muito menos dinheiro, verdade, mas quem for criativo encontrará sempre uma plataforma.

 

André Ferreira- Seguiu-se como apresentador o “ O sempre em Pé” e o grande êxito “ 5 Para a Meia – Noite”, sendo um dos fundadores do “5”, deve ter-lhe sido difícil tomar a decisão de o deixar. Saiu porque sentia-se estagnado por estar tantos anos a fazer o mesmo programa ou foi o momento indicado para puder dedicar-se a 100% a outros projetos?

 

Luís Filipe Borges- A décima série do ‘5’ foi muito difícil de fazer (para mim e não só). Perdemos pessoas fundamentais nos bastidores e a RTP sofreu uma mudança de direcção que não augurava nada de bom para o futuro do programa. Ao fim de 11 anos seguidos a trabalhar com muito orgulho para a instituição, atravessando diversas direcções e administrações – e sempre sem contrato -, percebi que o meu destino estava traçado. E antecipei-me. Não sei trabalhar sem paixão.

 

André Ferreira- Co-apresentou com o Professor Fernando Casqueira o programa “Conta-me História”, onde se falava da História de Portugal, de maneira divertida e descontraída. Com a programação que existe atualmente na nossa TV, em que a aposta em programas que falem de cultura ou História é quase nula, sentiu a necessidade de fazer um programa que em certa medida colmatasse essa falha e mostra-se a nossa história duma maneira divertida e descontraída sem a banalizar? Nunca pensou em fazer um “Conta-me História” do mundo?

 

Luís Filipe Borges- Quem me dera. O mérito desse programa pertence a muita gente. Ao produtor Erick Andrade, ao argumentista Nuno Dionísio, à directora de conteúdos Raquel Mourão, ao realizador Márcio Loureiro e sua equipa, à produtora Eyeworks e à direcção de programas de Hugo Andrade e Luís Marinho que acreditou ser possível fazer um programa de História em horário nobre. Curiosamente, nem era para entrar. Fui convidado para ajudar no casting ao historiador, e depois de dois ou três mauzinhos, surgiu o Prof. Fernando Casqueira – hoje um amigo para a vida – e a química foi imediata. Quando a Direcção de Programas analisou o casting achou que tínhamos de ser nós os dois a fazer. É o projecto televisivo de que mais me orgulho. Um formato de qualidade em qualquer parte do mundo. Infelizmente, não vejo essa aposta voltar a acontecer, apesar dos discursos retóricos sobre “serviço público”.

 

André Ferreira- A sua veia de escritor iniciou-se em 2003 com o livro de poesia “Mudaremos o Mundo depois das 3 da manhã”, escreveu mais três livros, dos quais fazem parte:

“ Sou Português e Agora”

“ O Playboy Que Chora Nas Canções de Amor”

“ A Vida é só Fumaça”

O seu último livro já datado de 2010, para quando um novo livro, ou já não tem momentos livres que permitam dar asas a imaginação literária?

 

Luís Filipe Borges- Impressionante o timing desta pergunta J no dia em que respondo a esta entrevista, terminei a última crónica para o meu próximo – que sairá pela Marcador a tempo da Feira do Livro. Só não adianto o título porque está ainda em agradável discussão com o meu editor. Mas será um volume de escrita em viagem.

 

André Ferreira- Como guionista dando apenas alguns exemplos escreveu para as “Produções Fictícias”, e para o programa “Manobras de Diversão”, na área da comédia, “Liberdade 21”, uma série dramática atual e o “Conta-me como Foi”, uma série histórica que abordava o 25 de Abril. Para qual género dá-lhe mais gosto escrever os guiões? Gostaria de, ou está a pensar escrever um guião só da sua autoria para uma série de TV, ou uma longa-metragem no cinema?

 

Luís Filipe Borges- Tenho uma longa-metragem escrita e neste momento a concurso. Não conto receber qualquer subsídio, nunca me aconteceu, mas acredito que um dia conseguirei levá-la a bom porto. O género que me dá mais gozo enquanto guionista é o drama, se possível com um toque de thriller.

 

André Ferreira- Sei que gosta muito de trabalhar em humor/comédia, quem são as suas maiores influências?

 

Luís Filipe Borges- Nunca ninguém me fez rir tanto como mestre Herman. Depois, claro, os anglo-saxónicos – que ainda vão anos-luz à nossa frente: George Carlin, Jon Stewart, Tina Fey, Ricky Gervais, Conan O’Brien, Monty Python, Billy Wilder, Woody Allen, Mark Twain, tantos.

 

André Ferreira- Um dos projetos mais recentes é a peça “ Três é demais”, com o António Raminhos e o Marco Horácio, conseguem estar em palco, sem provocar o riso entre vocês? Vão Percorrer o País com ela?

 

Luís Filipe Borges- Provocar o riso entre nós é um dos objectivos J o espectáculo assenta no exagero das nossas biografias e na enorme cumplicidade entre os 3, e tem uma forte componente de improviso e tertúlia. Por isso faz parte. Entretanto, já atingimos os 14 mil espectadores e não podíamos estar mais felizes com as salas esgotadas no Estoril e no Auditório dos Oceanos J Estamos a analisar convites e a fechar datas para digressão, que incluem já Açores, Porto e Guimarães.

 

André Ferreira- Quais vão ser os seus próximos projetos?

 

 Luís Filipe Borges- Está para estrear em breve a série “Aqui Tão Longe”, que escrevi a convite do seu criador Filipe Homem Fonseca, e com os meus colegas Nuno Duarte e Pedro Goulão. Um drama contemporâneo, psicológico, com o terrorismo a bater à porta de Portugal e – lá está – com um toque de thriller ;) Até ao final do ano espero concluir o meu primeiro romance, estrear um novo espectáculo de teatro, continuar a actuar um pouco por todo o país e concluir o meu curso de Técnico de Audiovisuais (um ano lectivo na World Academy).

 

André Ferreira - Para finalizar como grande Benfiquista que é, não podia deixar de perguntar o que pensa das várias declarações e atitudes polémicas que tem acompanhado o campeonato de futebol Português esta época? Está confiante que o Benfica vai ser novamente campeão, e até onde é que conseguirá ir na Liga dos Campeões?

 

 Luís Filipe Borges- Benfiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiica! Acho que o futebol português é riquíssimo em atletas e treinadores, paupérrimo nos dirigentes. Ver um rival de respeito, como o Sporting, ser gerido por um hooligan, é comédia que se escreve sozinha (e concorrência desleal para os humoristas). Enfim, quanto à Champions League, e fazendo uma analogia cinéfila, cada vez mais trata-se de Oz para os nossos modestos clubes vindos do Kansas. Se o Benfica chegar às meias-finais, vou ao Marquês de sunga. Em relação ao campeonato, e como cada vez mais respeito e confio no karma, acredito que sim – ainda vamos ser campeões e com a suprema ironia de consegui-lo sem vencer um único clássico ou derby! #rumoao35

 

 André Ferreira- Muito obrigada uma vez mais pela sua disponibilidade, e desejo-lhe todo o sucesso do mundo para a sua carreira!

 

 Luís Filipe Borges- Muito obrigado pela entrevista rigorosa, óptima pesquisa e agradável convite ;) tudo de bom! Um abraço